O pessimismo é uma ferramenta usada pelo cérebro para nos proteger dos reveses da vida. Faz parte daquele pacote de instintos que herdamos dos nossos ancestrais para sobreviver e criar ambientes seguros. Nos primórdios, a proteção tinha a ver com eventos meteorológicos, falta de alimentos ou animais ferozes. Atualmente, lutamos contra prejuízos financeiros, doenças e a destruição do nosso ecossistema, por exemplo.
Então, o que fazer quando o pessimismo aparece? Ele não precisa ser demonizado, desde que usado como plataforma de amparo, fonte de realismo ou de busca da precisão, ganhando formas positivas com critério e senso de perspectiva. A diferença entre otimistas e pessimistas está na dose e no foco de atenção diante das situações que nos rodeiam. Em uma mesma situação, alguns enxergam desafios e oportunidades; outros, problemas e dificuldades.
Criativos, profissionais de marketing e vendedores precisam ter uma alta dose de otimismo para realizar seu trabalho diário. Tesoureiros, auditores, médicos e engenheiros de segurança, por sua vez, precisam adotar uma cautela austera em suas atividades.
Não há certo ou errado, o cuidado a ser adotado é não transformar o pessimismo na casa do perfeccionismo, da baixa autoestima ou da procrastinação, afetando o desempenho pessoal, gerando ansiedade e confirmando as expectativas negativas anteriormente previstas.
O
pessimista real adota um viés cognitivo que reforça suas expectativas negativas
e, em uma espiral descendente, encontra em cada experiência uma resposta danosa
para suas ansiedades. O pessimista defensivo dobra seus esforços em cada
desafio, encontrando novas soluções e aumento da sua motivação.
Para
sair desse imbróglio, o importante é trabalhar o “senso de presença” e refletir
se o cenário apresenta uma base real para o pessimismo. Depois disso, dá para
seguir por dois caminhos:
a)
Se a situação não
for tão ruim quanto parece, tire o peso das costas e as lentes do negativismo.
Em seguida, procure pessoas próximas (amigos, colegas de trabalho, líderes
etc.) para falar sobre as inseguranças que surgiram;
b)
b) Se a situação
for realmente complicada, lembre-se de que no erro existem pontos de reflexão,
aprendizado e compreensão. Freios falharam, desfalques aconteceram e, mesmo com
danos, esses acontecimentos serviram para o desenvolvimento de novas
tecnologias e formas inovadoras de se trabalhar. Como diz o escritor alemão
Friedrich Höderlin: “No perigo, multiplica-se também aquilo que salva”.
Vale ressaltar que o lado b(om) do pessimismo não deve servir de pretexto para sustentar esse comportamento, pois estudos apontam que são os otimistas que se recuperam mais rápido das derrotas e, resilientes, conseguem mais rapidamente se reerguer e recomeçar, o que se traduz em benefícios inclusive para a saúde física.
Já diria Martin Seligman, pai da Psicologia
Positiva: “A vida impõe os mesmos reveses e tragédias tanto para o otimista
quanto para o pessimista, mas o otimista consegue enfrentá-los com mais
tranquilidade”.
É importante sublinhar que pessoas com
personalidades diferentes possuem gatilhos de motivação e engajamento
diferentes. Falar para um pessimista que “tudo vai dar certo” é tão ineficaz
quanto pedir para um otimista “desistir de uma causa ou projeto”.
No final das contas, a resposta está na
flexibilidade e no caminho do meio. Dependendo da dose, o pessimismo protege ou
impede avanços; já o otimismo pode criar novos horizontes ou cenários
ilusórios. Seguindo o caminho das virtudes e encontrando o lado bom do
pessimismo, fica mais fácil encontrar um jeito para ser mais feliz.
Por Rodrigo de Aquino. Comunicólogo, especialista em bem-estar e felicidade e fundador do Instituto DignaMente.
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