Ter ciência das limitações humanas serve de bússola para agirmos com sabedoria, coragem e razão
Convidado
a dar uma aula inaugural na universidade de Stanford em 2005, Steve Jobs falou
da ferramenta que vinha turbinando sua força criativa e inovadora: a morte. Com
câncer, mas sempre inspirado, o fundador da Apple lembrou os calouros que a
perspectiva da finitude da vida resgata a importância e a urgência de elegermos
prioridades. A consciência de que o tempo – esse valioso recurso – se esgota
ajuda-nos a valorizar o que realmente importa.
A
mensagem de Jobs é profundamente estoica. Para o estoicismo – escola filosófica
greco-romana nascida no século III a.C., e que se estende até o início da era
cristã – o universo segue a ordem natural e racional que deveria seguir. Não há
espaço para o caos ou o acaso – mesmo as adversidades, as dores e as doenças
estão dentro da lógica universal. Sendo assim, a ação humana deve evitar a
contaminação pelas paixões (a raiva, por exemplo), e apresentar-se serena e
compreensiva frente aos acontecimentos, sejam eles bons ou ruins, fáceis ou
difíceis.
A ideia não é ser conformista ou passivo, mas aceitar que boa
parte da existência está fora do nosso controle. Por mais que sejamos
cuidadosos, como evitar um acidente de trânsito ou uma enfermidade? É razoável
esperar que nossa reputação nunca seja manchada? Marco Aurélio, imperador
romano (dos bons!) que foi um grande seguidor do estoicismo, acreditava que a
honra é uma condição externa, sujeita a críticas e julgamentos, e, portanto,
incontrolável. A opinião alheia, assim como tantos outros eventos, nos escapa.
Dizia Marco Aurélio: “não se sinta atingido e você não terá sido”. Isso não
significa que podemos ser descuidados com nossa reputação, mas sim que nosso
próprio julgamento é que deve dirigir nossas emoções – e essas devem ser
marcadas pelo autocontrole e pela aceitação.
A compreensão madura e serena do imponderável abre um campo fértil
de possibilidades. Pensemos nos desafios da vida corporativa: o que fazer em um
ambiente de restrições que se apresenta aqui e agora? Que parte disso tudo está
a meu alcance transformar e aprimorar? Que planos alternativos são viáveis dado
o contexto? Como permanecer blindado contra uma demissão inesperada? O que
esperar de meu futuro profissional? A escola estoica propõe uma espécie de
“guia prático da resiliência” que pode ser útil para pessoas físicas e
jurídicas. Ter ciência das limitações humanas serve de bússola para agirmos com
sabedoria, coragem e razão. A conciliação com a realidade e seus truques nos
motiva a escolher e agir melhor, pois renunciamos às idealizações que nos fazem
perder tempo, energia e dinheiro.
Sêneca,
filósofo romano que, curiosamente, foi preceptor de Nero e por este foi
condenado a suicidar-se, apontava cinco posturas próprias do homem estoico: a
serenidade frente ao sofrimento, ser corajoso frente ao inesperado, sempre
esperar o resultado mais temido em qualquer situação, adotar o autocontrole
para resistir ao pânico e ao pessimismo, e por fim, a sabedoria em reconhecer
que tais posturas nos predispõem à felicidade.
É incrível a atualidade dessa filosofia quando recorre à
resiliência para explicar a felicidade e sucesso. Na visão deles, somente ao
nos sentirmos felizes com o que temos e com quem somos é que podemos ser
bem-sucedidos. A felicidade seria, assim, a causa do sucesso, e não a
consequência. Hoje sabemos que, de fato, o pensamento positivo influencia a
produção de dopamina – confira os trabalhos de Shawn Achor – e isso contribui
para elevar nossa performance e nosso estado interno de felicidade. O resto sim
é resultante.
Sêneca dizia também que a vida toda é um aprender a morrer. Ainda
complementaria dizendo que é também um aprender a perder com aceitação, e a
vencer sem soberba. A Felicidade não é um ponto de chegada e assim considerá-la
é praticamente desistir de vivenciá-la. A ansiedade, mal maior de nossos
tempos, é desses sentimentos que tudo contamina sacando da jornada o seu sabor.
Epitecto, filósofo romano que foi escravo praticamente por toda a sua vida,
disse que nada de grandioso é criado repentinamente. Disciplina, propósito e
autocontrole são as ferramentas certas para navegar na vida e nos negócios.
Tente olhar o mundo com esses óculos.
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