Você sabe o que é autorregulação? Entende quando ela começa a existir dentro de você? Sabe quando a criança aprende a segurar o xixi ao invés de fazê-lo na cama? Isso é autorregulação, essa percepção de que uma necessidade do corpo agora passa a ser controlada. Mas existem outras formas de autorregulação.
A psicóloga Naira Caroline Teixeira explica que a autorregulação
é um princípio que está diretamente relacionado com a nossa estabilidade
emocional. Ela é usada como ferramenta para controlar reações emocionais e
comportamentais frente a fontes de estimulação positiva ou negativa.
Lembrando que nenhum indivíduo é completamente estável e essa
oscilação emocional, que não são de amplo espectro, é sinal de saúde mental.
“As dores, os sofrimentos, as alegrias, o entusiasmo, as
paixões, os lutos… eles nos protegem da apatia, que é uma indiferença ao que
acontece dentro e fora da gente, e que é tão doentio quanto a instabilidade
emocional. Por isso a autorregulação é tão importante e deve ser desenvolvida
desde a infância”.
A criança que faz pirraça está demonstrando sua revolta por ter
sido contrariada, seu modo de reagir a contrariedade mostra a imaturidade e a
necessidade de que alguém a ajude nesse sentido. “Precisamos ensinar as
crianças a lidarem com suas emoções, educá-las para lidar com seus sentimentos
e reconhecê-los. Muitas pessoas chegam à vida adulta sem saber quando estão
tristes, com raiva ou simplesmente cansados”, informa a psicóloga.
Esses são gatilhos emocionais que promovem reações parecidas,
mas que quando identificados, o indivíduo tem muito mais condições de
equilibrar suas reações e escolher melhor suas atitudes e ações. Do ponto de
vista da psicologia analítica o que acontece fora do ser humano também acontece
dentro. “Nos expressamos com nossos conteúdos emocionais, ou seja, com nosso
aparelho mental que é algo essencial ao indivíduo e intrasferível, independente
do gatilho externo”.
Para a professora e Drª Marluce Mechelli de Siqueira, a
autorregulação existe em todos os sentidos, em todos os momentos. “O simples
ato de respirar é uma autorregulação. Primeiro você sugar o ar, absorvendo e
levando para dentro do seu corpo esse fôlego de vida; no segundo momento, você
faz uma pausa e aí o ar vai percorrer todo seu corpo que precisa desse ar para
se regular e depois você expira, eliminando. Essa respiração te coloca em
movimento, e também te ajuda a se regular, que na língua portuguesa, regular
não significa colocar freio, significa calibrar, lapidar, e como faremos isso?
Com experiências positivas, mais ou menos e negativas; então para atingir uma
autorregulação temos que ter experiências”.
Se a autorregulação começa na infância e a correria do dia a dia
tornou os pais, pessoas que presenteiam para suprir a ausência de presença, de
tempo de qualidade na vida dos filhos, que tipo de pessoa estamos deixando para
o mundo? Dra. Marluce faz um alerta sobre isso, num exemplo bem simples.
“Com o Ano Novo, milhares de pessoas foram as praias assistir
aos fogos. No dia segunte foram retiradas toneladas de lixo dos locais, tudo
que não era para estar lá. Mas isso é falta de autorregulação? Sim, quando você
não se entende pertencente a esse planeta, quando você não se inclui na
manutenção desse mundo, você não está se autorregulando, você está apenas
existindo”.
Além disso, Naira ainda relata sobre o que a falta de tempo fez
com as pessoas. “No mundo ideal não estamos preparados para lidar com as
frustrações, no mundo ideal temos filhos, mas não temos tempo de educá-los e
nem de estimulá-los a desenvolverem a autorregulação”, explica.
Atualmente os filhos estão muito mais entregues às telas e as
comidas carregadas de açúcares e gorduras, fazendo com que eles se sintam
saciados, quietos. Mas isso nem de longe é satisfatório para um bom
desenvolvimento e a conta chega na adolescência, com altos níveis de
intolerância ao mundo real e na relação com o outro, gerando níveis
elevadíssimos de ansiedade, depressão e automutilação.
“Tudo isso por uma inabilidade de autorregulação, algo que
poderia ser trabalhado desde a infância através de situações que desenvolvesse
a resiliência e a capacidade emocional de lidar com as coisas da vida”.
Naira conclui que a autorregulação é importante, pois envolve
fazer uma pausa entre um sentimento e uma ação – reservar um tempo para pensar
nas coisas, fazer um plano, esperar pacientemente. As crianças geralmente lutam
com esses comportamentos, e os adultos também.
Para Dra. Marluce, existem crianças, adultos e idosos com
diferentes possibilidades de existir no mundo. “Quando eu sei que uma pessoa
tem um déficit é preciso aumentar o aporte educativo, associado a atividade
física, cultural, artística. Certamente haverá o empoderamento, essa soma de
três coisas, permite o melhoramento e com isso, consigo uma evolução dessa
pessoa. Posso oferecer modelos de autorregulação como a música, mas sem ficar
exclusivamente na música, a arte em si, contribui muito como exemplo de
autorregulação”.
De acordo com a professora, o que não podemos fazer é excluir.
“A exclusão não é regra para ninguém, o mundo existe com diferentes e com os
diversos, todos temos talentos e todos somos capazes, medir essa capacidade por
apenas um indicador é um erro”.
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