domingo, 14 de janeiro de 2024

Autorregulação: estabilidade emocional começa na infância

Você sabe o que é autorregulação? Entende quando ela começa a existir dentro de você? Sabe quando a criança aprende a segurar o xixi ao invés de fazê-lo na cama? Isso é autorregulação, essa percepção de que uma necessidade do corpo agora passa a ser controlada. Mas existem outras formas de autorregulação.

A psicóloga Naira Caroline Teixeira explica que a autorregulação é um princípio que está diretamente relacionado com a nossa estabilidade emocional. Ela é usada como ferramenta para controlar reações emocionais e comportamentais frente a fontes de estimulação positiva ou negativa.

Lembrando que nenhum indivíduo é completamente estável e essa oscilação emocional, que não são de amplo espectro, é sinal de saúde mental.

“As dores, os sofrimentos, as alegrias, o entusiasmo, as paixões, os lutos… eles nos protegem da apatia, que é uma indiferença ao que acontece dentro e fora da gente, e que é tão doentio quanto a instabilidade emocional. Por isso a autorregulação é tão importante e deve ser desenvolvida desde a infância”.

A criança que faz pirraça está demonstrando sua revolta por ter sido contrariada, seu modo de reagir a contrariedade mostra a imaturidade e a necessidade de que alguém a ajude nesse sentido. “Precisamos ensinar as crianças a lidarem com suas emoções, educá-las para lidar com seus sentimentos e reconhecê-los. Muitas pessoas chegam à vida adulta sem saber quando estão tristes, com raiva ou simplesmente cansados”, informa a psicóloga.

Esses são gatilhos emocionais que promovem reações parecidas, mas que quando identificados, o indivíduo tem muito mais condições de equilibrar suas reações e escolher melhor suas atitudes e ações. Do ponto de vista da psicologia analítica o que acontece fora do ser humano também acontece dentro. “Nos expressamos com nossos conteúdos emocionais, ou seja, com nosso aparelho mental que é algo essencial ao indivíduo e intrasferível, independente do gatilho externo”.

Para a professora e Drª Marluce Mechelli de Siqueira, a autorregulação existe em todos os sentidos, em todos os momentos. “O simples ato de respirar é uma autorregulação. Primeiro você sugar o ar, absorvendo e levando para dentro do seu corpo esse fôlego de vida; no segundo momento, você faz uma pausa e aí o ar vai percorrer todo seu corpo que precisa desse ar para se regular e depois você expira, eliminando. Essa respiração te coloca em movimento, e também te ajuda a se regular, que na língua portuguesa, regular não significa colocar freio, significa calibrar, lapidar, e como faremos isso? Com experiências positivas, mais ou menos e negativas; então para atingir uma autorregulação temos que ter experiências”.

Se a autorregulação começa na infância e a correria do dia a dia tornou os pais, pessoas que presenteiam para suprir a ausência de presença, de tempo de qualidade na vida dos filhos, que tipo de pessoa estamos deixando para o mundo? Dra. Marluce faz um alerta sobre isso, num exemplo bem simples.

“Com o Ano Novo, milhares de pessoas foram as praias assistir aos fogos. No dia segunte foram retiradas toneladas de lixo dos locais, tudo que não era para estar lá. Mas isso é falta de autorregulação? Sim, quando você não se entende pertencente a esse planeta, quando você não se inclui na manutenção desse mundo, você não está se autorregulando, você está apenas existindo”.

Além disso, Naira ainda relata sobre o que a falta de tempo fez com as pessoas. “No mundo ideal não estamos preparados para lidar com as frustrações, no mundo ideal temos filhos, mas não temos tempo de educá-los e nem de estimulá-los a desenvolverem a autorregulação”, explica.

Atualmente os filhos estão muito mais entregues às telas e as comidas carregadas de açúcares e gorduras, fazendo com que eles se sintam saciados, quietos. Mas isso nem de longe é satisfatório para um bom desenvolvimento e a conta chega na adolescência, com altos níveis de intolerância ao mundo real e na relação com o outro, gerando níveis elevadíssimos de ansiedade, depressão e automutilação.

“Tudo isso por uma inabilidade de autorregulação, algo que poderia ser trabalhado desde a infância através de situações que desenvolvesse a resiliência e a capacidade emocional de lidar com as coisas da vida”.

Naira conclui que a autorregulação é importante, pois envolve fazer uma pausa entre um sentimento e uma ação – reservar um tempo para pensar nas coisas, fazer um plano, esperar pacientemente. As crianças geralmente lutam com esses comportamentos, e os adultos também.

Para Dra. Marluce, existem crianças, adultos e idosos com diferentes possibilidades de existir no mundo. “Quando eu sei que uma pessoa tem um déficit é preciso aumentar o aporte educativo, associado a atividade física, cultural, artística. Certamente haverá o empoderamento, essa soma de três coisas, permite o melhoramento e com isso, consigo uma evolução dessa pessoa. Posso oferecer modelos de autorregulação como a música, mas sem ficar exclusivamente na música, a arte em si, contribui muito como exemplo de autorregulação”.

De acordo com a professora, o que não podemos fazer é excluir. “A exclusão não é regra para ninguém, o mundo existe com diferentes e com os diversos, todos temos talentos e todos somos capazes, medir essa capacidade por apenas um indicador é um erro”.

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