Greg Murray, Diretor do Centro de Saúde Mental na
Universidade de Tecnologia de Swinburne, Austrália, lança luz sobre os aspectos
cognitivos desse fenômeno. Ele menciona que acordar e se preocupar nesses
horários é uma resposta muito humana, mas também sugere que não é um hábito
benéfico. A ocorrência desses despertares pode ser intensificada pelo estresse,
que não necessariamente aumenta a frequência com que se acorda, mas faz com que
se esteja mais consciente disso. Murray enfatiza que, embora acordemos várias
vezes à noite, é o elemento adicional do estresse que transforma esses breves
despertares em períodos de plena consciência.
Stephanie Romiszewski,
fisiologista do sono e diretora da Clínica Sleepyhead nos EUA, oferece
conselhos práticos sobre como gerenciar essa questão. Ela recomenda manter um
horário consistente para acordar todos os dias e só ir para a cama quando
estiver com sono. Ela também destaca a importância do exercício regular, da
exposição à luz brilhante pela manhã e da interação social para melhorar a
qualidade do sono. Essas atividades ajudam a estabelecer uma rotina, fazendo
com que o corpo e a mente entendam que o sono deve ocorrer durante as horas
noturnas habituais.
O
momento desses despertares, especificamente por volta das 3 ou 4 da manhã, pode
ser explicado ao examinar os padrões típicos do ciclo de sono. Durante a noite,
nosso sono oscila entre o sono de movimento rápido dos olhos (REM) e o sono
não-REM. A probabilidade de acordar é influenciada pelo estágio do sono em que
se está. Como o sono REM, que é mais leve e cheio de sonhos, aumenta à medida
que a manhã se aproxima, as pessoas estão mais propensas a acordar durante
essas horas.
Michael
K. Scullin, professor associado de psicologia e neurociência na Universidade
Baylor, no Texas, introduz outro ângulo a essa discussão. Ele sugere que
acordar cedo pode estar associado a ansiedade, potencialmente ligados a tarefas
inacabadas ou responsabilidades pendentes. O cérebro humano mantém um nível
elevado de ativação para essas tarefas incompletas, o que pode contribuir para
distúrbios do sono.
Além disso, existe a relação entre acordar de madrugada e a
necessidade de urinar, conhecida como noctúria. Este fenômeno é especialmente
comum entre adultos mais velhos, mas pode afetar pessoas de todas as idades. A
noctúria pode ser causada por diversos fatores, incluindo o consumo excessivo
de líquidos antes de dormir, o declínio natural da função renal que ocorre com
a idade, ou condições médicas específicas, como diabetes, insuficiência
cardíaca ou doenças da próstata.
Como evitar acordar de madrugada
Para mitigar isso,
manter uma lista de tarefas pode ser uma estratégia eficaz. Scullin, que escreveu um artigo sobre o tema em 2018, demonstrou que gastar alguns minutos antes de dormir para
compilar uma lista de tarefas futuras pode ajudar significativamente a
adormecer mais rápido. Essa prática também pode ser aplicável àqueles que
acordam no meio da noite, pois ajuda a organizar os pensamentos e
potencialmente reduzir a ativação mental causada por tarefas inacabadas.
Colin
Espie, professor de medicina do sono no Departamento de Neurociências Clínicas
Nuffield da Universidade de Oxford, defende uma abordagem semelhante,
denominada “encerrar o dia”. Isso envolve reservar um tempo antes de dormir
para revisar os eventos do dia e planejar o dia seguinte. Essa prática ajuda o
cérebro a processar pensamentos e preocupações sem a necessidade de acordar
durante a noite.
No
entanto, se essas estratégias não produzirem resultados positivos e o problema
persistir por mais de alguns meses, pode ser necessário procurar ajuda
profissional. Distúrbios prolongados do sono podem se desenvolver em padrões
habituais, tornando-os mais difíceis de abordar simplesmente eliminando os
gatilhos iniciais. Nesses casos, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a
consulta com um especialista em sono ou médico podem ser necessárias.
A
natureza multifacetada dos despertares matinais precoces implica que não há uma
única causa ou solução. Fatores como estresse, padrões do ciclo de sono,
processos psicológicos e hábitos de vida desempenham um papel. Embora
estratégias de autoajuda como manter uma rotina regular de sono, exercício e
listas de tarefas possam ser benéficas, problemas persistentes podem exigir
intervenção profissional.
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