Psicólogos têm se interessado há
muito tempo pelos aspectos mais obscuros da natureza humana, e pesquisas
recentes trouxeram novas perspectivas sobre essa área. Tradicionalmente, o
conceito do “triângulo negro” tem sido central para entender esses traços
malévolos. Esse triângulo inclui psicopatia, narcisismo e maquiavelismo, cada
um representando um aspecto distinto, porém interrelacionado, de traços de
personalidade negativos. Psicopatia é caracterizada pela falta de empatia e
remorso, narcisismo por um senso inflado de autoimportância, e maquiavelismo
por manipulação e exploração dos outros.
No entanto, uma exploração mais
profunda da psique humana revela que esses três traços mal arranham a
superfície. Outros traços malévolos como egoísmo, sadismo, rancor e mais também
desempenham um papel significativo no espectro do comportamento humano. Esses
traços, embora distintos, compartilham uma característica comum, sugerindo um
fator subjacente unificado.
Essa noção levou a um estudo inovador em 2018 por psicólogos da
Alemanha e Dinamarca, que propuseram um novo conceito: o Fator Negro da
Personalidade, abreviado como “D”. Esse conceito é baseado na ideia de um
núcleo central de escuridão na personalidade humana, análogo ao fator g na
inteligência. O fator g, proposto por Charles Spearman, postula que um fator
geral de inteligência subjaz a várias habilidades cognitivas. De maneira
similar, o fator D sugere um denominador comum subjacente a vários traços obscuros.
Para investigar isso, mais de 2.500 participantes foram
envolvidos em uma série de quatro estudos. Eles foram avaliados em nove traços
distintos de personalidade negra: egoísmo, maquiavelismo, desengajamento moral,
narcisismo, direito psicológico, psicopatia, sadismo, auto-interesse e rancor.
A metodologia incluiu participantes respondendo a várias declarações projetadas
para medir esses traços. Declarações como “Eu sei que sou especial porque todos
me dizem isso”, “Direi qualquer coisa para conseguir o que quero”, “É difícil
progredir sem cortar caminhos aqui e ali” e “Machucar pessoas seria excitante”
foram usadas para avaliar o alinhamento dos participantes com esses traços.
A análise das respostas revelou que, enquanto esses traços são
distintos, eles também se sobrepõem até certo ponto. Essa sobreposição é
atribuída ao fator D, que se manifesta de diferentes maneiras em diferentes
indivíduos. Por exemplo, em uma pessoa, o fator D pode se manifestar
predominantemente como narcisismo, enquanto em outra, pode aparecer como uma
combinação de psicopatia e sadismo.
Entender o fator D não é apenas academicamente intrigante; tem
implicações práticas. Por exemplo, o conhecimento sobre o fator D de uma pessoa
poderia ser usado para avaliar a probabilidade dela se envolver em
comportamentos prejudiciais. Isso poderia ser particularmente relevante em
contextos como violência extrema, quebra de regras ou enganação em setores
corporativos ou públicos.
Além disso,
os pesquisadores criaram um portal online onde indivíduos
podem medir seu próprio escore D. Isso não só satisfaz a curiosidade pessoal
sobre seus próprios traços obscuros, mas também pode contribuir para a pesquisa
psicológica e terapêutica. Tal pesquisa poderia avançar nossa compreensão de
ações malévolas e potencialmente levar a novas descobertas em psicologia.
As
descobertas deste estudo, relatadas na Psychological Review, sugerem uma nova
maneira de olhar para traços de personalidade negativos. Ao entender o
denominador comum desses traços, pesquisadores e terapeutas podem desenvolver
uma abordagem mais matizada para estudar, diagnosticar e tratar comportamentos
associados a esses traços.
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